Há alguns anos, quando uma empresa abria uma vaga e contratava um novo candidato, o processo se resumia a encontrar um profissional apto a realizar o serviço proposto e cumprir com os seus horários, algo um pouco mais burocrático e restrito. Contudo, nos dias de hoje, diante de um cenário modernizado e repleto de transformações, contratar um novo profissional é um processo muito mais amplo, que toca em diversos pontos de intermédio entre o futuro colaborador e a empresa. Atualmente, a harmonia entre valores e perfis pesa muito mais no recrutamento do que a mera correspondência entre requisitos e habilidades.
Por definição, o fit cultural é um “encaixe cultural”, é a capacidade que um profissional tem de se adaptar à empresa e o quanto ambas as culturas e identidades coincidem. Essa é uma ferramenta e um critério muito importante aplicado por times de RH, uma vez que serve para medir o quanto um candidato se encaixa não apenas na vaga pretendida, mas em todo o complexo de valores da organização.
Na prática, o fit é um conjunto de várias perguntas que uma empresa faz aos seus candidatos durante o processo seletivo, para conhecer mais a fundo o futuro colaborador e saber sobre seus princípios. Dessa forma, a organização pode avaliá-lo de forma mais eficaz e estratégica, além de garantir uma contratação mais certeira.
Mas então, por que essa ferramenta de seleção é tão importante para as organizações?
Os colaboradores no quebra-cabeça
Imagine que a sua empresa é um enorme quebra-cabeça e cada peça dele é um colaborador. Não daria para finalizá-lo com peças que não se encaixam, certo? Além disso, não conseguiríamos ver a imagem final desse quebra-cabeça se alguma peça estiver no lugar errado, ou se uma delas for de outro quebra cabeça…
Seguindo essa analogia, podemos notar o quanto alinhar perfis é importante para uma organização que busca uma cultura forte e voltada ao crescimento, integração e performance. Os colaboradores, como partes únicas – e, ao mesmo tempo, plurais – da empresa, entram e permanecem nela para somar, e o resultado disso tudo, além de alto desempenho e sucesso, é uma cultura organizacional concisa e representativa.
Aplicar o fit cultural possibilita que novos colaboradores pratiquem – e representem – os princípios da organização. Cada candidato é único e carrega consigo uma vivência, uma bagagem de experiências, uma identidade e uma forma particular de agir e pensar. Cada talento é único e as personalidades de todos são diferentes, e é justamente essa singularidade que é avaliada nos processos seletivos que aplicam a ferramenta do fit.
Se os valores, crenças e objetivos da empresa não estiverem alinhados aos do futuro colaborador, a empresa terá uma cultura cada vez mais fraca e profissionais que não se encaixam dentro do perfil da organização como um todo.
Mas você sabia que o fit cultural não importa somente para a empresa? Essa ferramenta é valiosa, também, para os futuros colaboradores, pois é por meio dela que um candidato saberá que está em uma empresa que o valoriza e compartilha da mesma postura que ele. E todo profissional tem o desejo de estar em um cenário alinhado aos seus valores pessoais, não é?
Acontece que, para os próprios colaboradores, o propósito é muito mais do que apenas um adicional. A “Geração Z” (constituída por pessoas nascidas entre os anos de 1995 e 2010) é o maior grupo populacional do mundo e, também, a maior fonte de força de trabalho. Essa geração leva em seu DNA o conceito de purpose-driven, uma demanda desses profissionais para com as organizações que almejam atuar. Para a criação de um verdadeiro vínculo com as empresas, os profissionais precisam se sentir conectados de alguma forma, se sentindo parte do desenvolvimento de algo para o mundo, seguindo em um mesmo caminho, junto à organização, com foco em um mesmo propósito. Sendo assim, para adaptar processos de recrutamento a um cenário mercadológico repleto de profissionais desejando se encaixar, é no fit cultural que devemos investir!
O fit e outras ferramentas
Em se tratando de processos internos e, principalmente, ferramentas aplicadas em pessoas – sejam elas colaboradores atuais, candidatos, clientes, stakeholders – nenhuma ferramenta caminha sozinha nessa jornada. É justamente a união de práticas que permite as tomadas de decisões cada vez mais estratégicas.
E já que estamos falando de fit cultural, não podemos deixar de mencionar o employer branding, pois ambas as ferramentas andam de mãos dadas! Aplicar uma ferramenta que avalia o quanto um profissional se encaixa no perfil e nas expectativas da empresa atua lado a lado com a definição de uma marca empregadora forte e coesa. Definir um perfil empregador que representa uma organização significa definir a essência de uma empresa, criando uma identidade que traduza os valores, crenças e objetivos da organização. Além disso, é por meio da aplicação do fit que o colaborador passa a entender um pouco mais sobre a cultura organizacional, um dos maiores alvos do employer branding, pois a cultura da empresa nada mais é do que seus valores somados às identidades de todos os seus colaboradores.
Outra metodologia que não pode ficar de lado nos processos seletivos é o People Analytics, uma ferramenta estratégica utilizada para otimizar o recrutamento de novos colaboradores e melhorar o desempenho das equipes. Por meio desse processo, os times de RH conseguem tomar decisões mais estratégicas e com base na coleta, na gestão e na análise de dados. Mapear o perfil comportamental dos futuros colaboradores é essencial para contratações mais certeiras e retenção de talentos antigos, além de contribuir positivamente com a construção e manutenção de uma cultura organizacional sólida e única.
Colocando a mão na massa
Já sabemos que o fit cultural é realizado pelos times de gestão das empresas e aplicado no momento da contratação, mas de que forma será que isso acontece? Como podemos aplicar essa ferramenta para recrutar com base nela? Explicaremos a seguir!
O fit cultural é, de uma forma geral, um questionário que a empresa faz ao candidato, avaliando atributos de performance, perfil profissional, competências e comunicação no geral. Alguns aspectos que podem ser analisados nos questionários que acompanham a ferramenta são soft skills, traços de personalidade, valores, objetivos, crenças, pensamentos, comportamentos, entre outros.
Esse instrumento serve para entender o quanto o candidato se parece com a empresa em que pretende entrar, e o quanto ele está preparado para responsabilidades e apto para encarar os desafios do dia a dia. O perfil dos candidatos deve estar alinhado às expectativas da empresa, e por isso é tão importante o mapeamento de um perfil, tanto para o colaborador quanto para a empresa.
Contratar com base nessas questões, por meio do fit cultural, é essencial para melhorar a relação entre empresa e colaborador, criando uma sintonia de valores e crenças, uma sinergia e um senso de identificação. Com o encaixe ideal entre empresa e colaborador, é possível encontrar profissionais interessados e motivados a fazer parte da organização não somente pela oportunidade de vaga, mas também pelo sentimento de pertencimento.
Indo para uma aplicação mais prática, já que o fit cultural é sobre uma aplicação de questionários estratégicos, podemos citar alguns exemplos de perguntas que podem ser feitas aos candidatos nesse momento tão importante do recrutamento, confira abaixo!
Qual seria seu ambiente de trabalho ideal?
Para que o candidato descreva em quais cenários ele se sente mais feliz, mais representado, mais produtivo e mais confortável. É importante para saber em qual ambiente o candidato mais se encaixaria, além de verificar se isso está de acordo com o cenário da organização.
Como seria seu melhor e pior dia no trabalho?
A fim de que o profissional fale mais sobre o que ele considera como sucesso ou fracasso. É válido para que a organização saiba o que motiva ou frustra o candidato, e como ele se sente e age diante de tais situações.
Você prefere trabalhar sozinho ou em equipe?
Com o objetivo de que o candidato diga em qual situação se sente mais confortável e como lida com cooperação e times. Importa para que a empresa saiba se o profissional se adequará ao ambiente de trabalho e se a preferência por um ou outro formato poderá afetar o seu desempenho.
Como você administraria vários projetos em um prazo curto?
Com o intuito de que o candidato descreva a forma que organiza sua vida profissional e como lida com tempo e pressão. É fundamental para saber se o candidato está apto para lidar com altas demandas no trabalho e se saberá conciliar todos os seus projetos.
Com base nessas – e várias outras – perguntas, fica cada vez mais possível para a empresa direcionar os processos de recrutamento e alinhar previamente seus candidatos à sua cultura organizacional, para que haja um grande potencial de crescimento para aqueles que se encaixam.
E os resultados chegam!
Quando uma empresa investe na aplicação do fit cultural – somada a outras ferramentas como employer branding -, ela tem em mãos poderosas ferramentas para alinhar o perfil do público-alvo e suas expectativas com o perfil da marca, o que traz resultados significativos para todo o escopo dos envolvidos (tanto organização quanto candidato).
Melhoria na experiência do colaborador
Em uma empresa que tem seus propósitos alinhados ao quadro de colaboradores, as equipes são unidas, fortes e de alto desempenho, entregando resultados com agilidade e de forma inovadora, o que tem uma ligação direta com o clima organizacional. Com o encaixe cultural, o colaborador se sentirá mais disposto a cumprir seus objetivos diários no ambiente de trabalho e se verá mais motivado a atuar e contribuir ativamente com o desenvolvimento da empresa.
Além disso, o colaborador cria – mais facilmente – laços com outros colegas de trabalho, uma vez que todos que compõem a organização se sentem representados por uma mesma cultura, o que gera um reconhecimento entre as partes. Se sentir bem-vindo em algum lugar é o que mantém viva a vontade de fazer parte dele!
Divulgação espontânea
Os colaboradores são um reflexo da organização e, por esse motivo, tornam-se embaixadores da marca da empresa. E aqui, voltamos novamente na questão do employer branding. Os profissionais que se sentem partes importantes de um todo empresarial e têm uma experiência positiva e memorável, tendem a fazer uma propaganda espontânea da organização, o que gera ainda mais visibilidade para a marca empregadora.
Seleção certeira
Dentre vários candidatos, serão selecionados aqueles os quais os perfis mais se encaixam com o perfil pretendido na vaga, com os princípios orientadores da organização e com a cultura. Diante disso, além de contar com os melhores profissionais, a empresa terá colaboradores que representam e propagam sua visão e missão, e uma empresa que conta com um time e em sincronia é um diferencial para qualquer mercado!
Atração e retenção de talentos
Uma vez atraídos a uma empresa com uma cultura bem definida, os colaboradores se sentem cada vez mais parte do negócio, compartilhando das mesmas ideologias e caminhando juntos. Por conta disso, há uma redução significativa nas taxas de rotatividade (turnover), pois quem está, deseja permanecer.
Uma empresa pode contratar centenas de colaboradores, mas se não for aplicado um fit cultural – e outras ferramentas de seleção – a imagem da organização será fragmentada, seus princípios não estarão em harmonia e os colaboradores não estarão em sintonia. Ou seja, muito mais vale uma contratação menor e assertiva do que grandes volumes de novos colaboradores que não são as peças corretas do nosso quebra cabeça, não é?
De mesmo modo, um colaborador pode ter todas as habilidades – aqui, chamadas de hard skills – e cumprir os requisitos de uma nova vaga, mas isso não será tão satisfatório, para nenhum dos lados, se este profissional não compartilhar da mesma postura da organização. Sem essa relação entre marca e talento, o colaborador poderá cumprir sua demanda, mas não terá harmonia e afinidade com as políticas e princípios da empresa.
Porém, é importante ressaltar que existem vários quebra-cabeças, certo? E, para cada um, existe a peça que se encaixa. Isto é, não é porque um talento não se adequa a uma organização específica que ele não poderá se adequar a outra! É para isso que o fit cultural entra em cena: para procurar, dentre várias peças e quebra-cabeças diferentes, a que se encaixa melhor em cada um deles.
E a sua empresa, já aplicou o fit cultural nos processos de recrutamento e seleção? Que tal começar a investir nessa ferramenta e alinhar crenças, atitudes, valores e comportamentos centrais?